“pagãos inocentes da decadência” (f.pessoa)
As crianças –só as pequeninas- são as únicas verdadeiramente felizes. Vivem o
momento. São felizes porque não tem conhecimento. Ainda não se descobriram, nem
aos demais pobres seres semelhantes. Depois são paulatinamente esmagadas como todos
os adultos pela noção, ainda que recusada e escondida num recanto do cérebro,
de uma existência cruel rumo ao nada, engolfados por uma coleção de complementos
inventados para obnubilar a consciência e o acúmulo de saber inconcluso que espicaçam a cada ato, a cada momento, e
deixam o humano no limiar do desespero ou da loucura, que nada mais é que outra
forma de viver, tão válida como a dos chamados sãos. O final será o mesmo para
ambos. O que é a música, o amor, as bebidas, as drogas, as religiões, os
deuses, senão fórmulas exatamente iguais de enevoar, atenuar uma existência
absurda, inútil?