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"O bom do livro é que quando ele acaba continua cheio e a gente pode ler de novo" (Joaninha,3 anos)

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Eutanásia,o suicídio e o romance "Johnny vai à guerra" de Dalton Trumbo

Aos que não admitem as duas alternativas citadas no título acima contra o sofrimento físico ou mental,sugiro que assistam ao sufocante e inesquecível filme originado deste aterrorizante livro,aterrorizante porque real,porque nos dá uma cutucada nas costas -hei,você!!- enquanto tentamos passar apressadamente por casos semelhantes fingindo nada ver e nos atira a podre hipocrisia social na cara. O romance baseado em fato real sobre um jovem soldado da primeira guerra mundial que mutilado -sem braços,pernas, cego, mudo- resume-se a um tronco jogado em uma cama mantendo um cérebro com consciência plena,na mais completa angústia de não poder se comunicar e -sem meios de se matar- ter a tortura de viver prolongada inutilmente em nome de princípios éticos e religiosos dos que o “cuidam”. Não é relevante que seja um mutilado de guerra; poderia ser uma vítima de acidente automobilístico, uma doença incurável ou mesmo sobre um ser saudável que por filosofia própria não deseje mais viver, mas seu sofrimento é prolongado inutilmente pelos demais membros da sociedade humana atrelados à regras, crendices, medos, covardias e de indevida autoridade sobre a vida alheia.

O livro, de aproximadamente 230 páginas publicado em 1939 é encontrado em português; quanto ao filme, que recomendo pela sua dramaticidade plenamente explorada pelo próprio escritor que dirige sua obra no cinema, pode ser encontrado em DVD. Dalton Trumbo, autor do livro e diretor do filme, apesar de sua atribulada vida política, é um profissional ímpar, roteirista de obras como Spartacus, Exodus, Papillon, Roman Holiday (Oscar de melhor história, 1953), The Brave One (também Oscar de melhor história em 1956). As lembranças,sonhos ou alucinações do jovem mutilado nos são apresentadas em cor, enquanto que no tempo presente,na cama de hospital, as imagens são em branco e preto. A angústia presente durante o transcorrer do drama é arrematada por um final que nos deixa sentados inertes, com uma sensação acovardada de “não devia ter assistido”... Não recomendo a quem prefere passar ao largo de verdades que nos apontam o dedo acusador. Recomendo firmemente aos contrários à eutanásia e os que criticam os suicidas.


Considero o suicídio uma decisão soberana de cada ser humano, um direito inalienável, indiscutível. Quanto à eutanásia, os ventos da racionalidade já começam a soprar favoravelmente com vários textos sendo analisados no Senado, além de uma legislação flexível que permite ao juiz julgar caso a caso e inclusive deixar de aplicar a pena. Em casos irreversíveis de doenças ou traumas,desde que atestado por dois médicos é permitido que aparelhos que mantenham artificialmente a vida sejam desligados.(ortotanásia). Aos que após assistirem o filme e começarem a ter pesadelos -plenamente justificáveis- lembro que é possível e legal o Testamento Vital, que segundo o Conselho Federal de Medicina, pode ser feito por qualquer pessoa maior de 18 anos, mentalmente saudável e inclusive -por vias de dúvida- nomear um representante legal para garantir que a vida do interessado não seja prolongada inutilmente e nem mesmo os parentes próximos poderão contestar.

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A vida não tem preço? Isso é um problema de cada um,único dono da própria; cabe somente ao proprietário estipular seu preço e sobretudo seu prazo de validade...




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“A morte, eleita livremente, a morte no tempo certo, com claridade e alegria, empreendida em meio a crianças e testemunhas, de modo que uma real despedida ainda é possível, onde este que se despede ainda está aí, assim como uma apreciação real do que foi alcançado e querido, uma soma da vida – tudo em contraposição à comédia deplorável e horripilante que o cristianismo levou a cabo com a hora da morte (…) a morte sob condições desprezíveis não é uma morte livre, ela não é uma morte no tempo certo, ela é a morte de um covarde. Dever-se-ia por amor à vida – desejar a morte de outra forma, a morte livre, consciente, sem acaso, sem a tomada de assalto…" (Nietzsche)


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