.

.
"O bom do livro é que quando ele acaba continua cheio e a gente pode ler de novo" (Joaninha,3 anos)

sábado, 20 de janeiro de 2024

Seis ebooks para free download

 Clique nos links para acessar ou fazer o download em PDF grátis. Aceite o desafio de sair de seu falso conforto psicológico e penetre no mundo miserável da cidadã Maria, (Maria da Silva) na loucura do normal professor J.C. (A conspiração de Santo Antonio do Desamparo), na real crença do descrente Arthur, (Angústias de um peixe-voador), na tragédia de uma viuvez (As brumas não são eternas). Não os veja como personagens fictícios, eles podem estar presentes em você, miseravelmente desnudo em "O infinito não tem pressa"... Depois viva intensamente com "Quimeras Incas", ainda há tempo...

ANGÚSTIAS DE UM PEIXE-VOADOR

"Era um cérebro instalado em um barco de carne e ossos ao sabor das ondas sociais, pronto a saborear as mais diversas paisagens como pano de fundo ao seu filosofar. Questionamentos de terceiros eram apenas o murmúrio do mar, assovios dos ventos." 

Arthur e o encarar do real com a coragem de virar as costas para os robotizados cidadãos "bem-sucedidos". Via-se como um peixe-voador que havia nascido quando principiava a sair d'água para seu salto e que, momentos depois cairia novamente na inconsciência quando voltasse a tocar na superfície límpida, calma, indiferente de um mar infinito chamado Universo. Sabia que nesta reentrada por mais que se agitasse apenas provocaria alguns respingos que logo desapareceriam. Sabia que era nada e tudo ao mesmo tempo, pois era de Arthurs, pedras, árvores, água e tudo mais que era formado o Todo, peças intercambiáveis construindo ao acaso. E o acaso dotara Arthur de uma qualidade duvidosa, a de, neste salto milimétrico e efêmero, fazer uso de uma consciência transitória, ver-se, sentir-se, observar. Era um pobre ser humano, a mais inútil das criaturas numa realidade igualmente inútil.

MARIA DA SILVA

Maria é uma catadora de lixo. Sem descrições supérfluas, assim a imaginação do leitor comporá o ambiente lendo o drama com o cenário que conhece, que acontece perto de si, que visualiza no dia a dia e cujo cerne desconhece ou finge não conhecer. Diariamente Marias morrem de inanição e doenças não tratadas, numa breve e trágica passada pela vida levando consigo toda uma história ignorada pelos demais distintos cidadãos. 

A CONSPIRAÇÃO DE SANTO ANTONIO DO DESAMPARO

Entre na mente do professor J.C. Raciocine em conjunto e acompanhe os passos lógicos e convincentes. Olhe para fora e veja um mundo perverso e ameaçador através da fragilidade do chip orgânico chamado cérebro, de uso contínuo, acumulando os arquivos fragmentados de sonhos desfeitos, ódios recalcados, medos, decepções e tristezas sem que seja feita no decorrer de sua vida útil uma manutenção efetiva, uma limpeza de disco, uma desfragmentação, um escaneamento com antivírus. J.C. é a vítima e o vilão também existe para todos nós que o adulamos, servimos, tentamos conquistar, enchemos-lhe de sorrisos e acenos mas é um monstro hipócrita, amoral, cruel, castrador, dissoluto, ditatorial: a Sociedade. 

AS BRUMAS NÃO SÃO ETERNAS

Transcorreram céleres os 80 anos desde meu nascimento. Mas só agora medito mais frequentemente sobre isso, só agora quando tudo está quase parado, tudo parece penosamente em câmera lenta como num filme, um filme de terror… Considerando o tempo de vida de meus falecidos pais ainda teria uma década pela frente, mas definho. Sei que ainda consigo andar, mas não me deixam. Ainda posso falar, mas para quê? Para me ignorarem como a uma criança ou pior, mandarem-me calar? De meu, só meu, inalcançável pelos inimigos tenho a mente que luta para se manter lúcida a cada dia, cada minuto. Uma cidadela ainda segura. Fora dela tudo são brumas onde prudentemente devo permanecer com o mínimo de movimentação possível, sem interferir, acatar sem protestar para fugir ao castigo. Sou um objeto frágil, obsoleto, portanto descartável. Quem são os inimigos a quem a bruma favorece? São aqueles que me enxergam como um alvo a ser espoliado e outros mais jovens, cheios -por enquanto- de vigor que investidos de autoridade dada por tempo passado em uma sala de aula e não pela vida, ignoram meus pedidos de socorro e apenas sorriem com ar de comiseração e que não entendem que estão cursando, na Universidade da Vida, o estágio para a velhice e todos os que a morte não surpreender antes receberão seu diploma, serão o que hoje sou. Meu corpo é um invólucro jogado de um lado para o outro, massa que deve se apresentar inerte, que todos esperam que esteja inerte, que não atrapalhe a velocidade inútil da sociedade em sua desabalada corrida sem rumo.

Um relato na primeira pessoa e comentários na terceira pessoa de uma arrasadora viuvez e suas consequências, a busca por uma solução passando por pensamentos suicidas e chegando à contratação de um cuidador de idosos para amenizar a solidão; os maus tratos decorrentes, fragilizado e nas mãos de um casal de pequenos vigaristas. A degradação paulatina, a busca de explicações lógicas para aceitar a humilhação e a salvação representada por uma maravilhosa e decidida mulher... 


O INFINITO NÃO TEM PRESSA

Tragicomédia em muitos atos representada pelos humanoides no teatro Planeta Terra (pretensa propriedade de um suposto Deus) com direção do ausente Estado) 

Este livro, de convicta lavra ateísta, contém conceitos que embora frutos de coerente raciocínio podem, por força da hipocrisia social e ambiguidade das leis serem tomados por apologia ao anarquismo, violência e racismo. Não é um manual, tampouco autoajuda, devendo ser entendido como um contrapor racional às discussões sobre os citados assuntos, usando o direito da livre manifestação do pensamento. Leitura, portanto não recomendada a indivíduos sugestionáveis, abrangidos aí os adolescentes.

Este não é um livro politicamente correto. Os conceitos nele contidos não sofrem a influência ridícula e ficcional das religiões, não acatam as imposições ditas científicas incompreensíveis e aceitas sem contestação, nem as inconsequentes, teóricas e irreais prosopopeias acadêmicas, não se curvando às pressões de grupamentos raciais, políticos ou sociais que em nome do chamado “politicamente correto” querem impor sua incapacidade e incompetência como direito às benesses conseguidas pelo esforço dos demais. A primeira parte, A angústia de Deus, é uma teoria mais plausível, mais digerível, do surgimento do Universo, sem dogmas e deuses barbados fabricando criaturas pouco funcionais, com intestino grosso e delgado, pâncreas, amígdalas e outros complementos estranhos -por quê não uma que se alimentasse de ar, por exemplo- e, na segunda parte, Os filhos do Nada, uma vez deixado claro que somos fruto do acaso, sem prêmios ou castigos de hipotéticos céus ou infernos, tento fazer um balanço do caos que é a vida inteligente no planeta, nossos muitos erros e poucos acertos em busca de um rumo, tentando fugir da Grande Manada, a terceira e simbolicamente derradeira parte…


QUIMERAS INCAS

Passados quinze anos de esperanças, descendo e acelerando na ladeira da morte, resolvi abrir mão das minhas toneladas de riqueza e história lacradas na lama amazônica, não por altruísmo, mas por absoluta impossibilidade de conquistá-las sozinho e a consciência de que o peso dos problemas será igual ao peso do ouro. Ouro? Quem disse ouro? Este nome poderia ser somente uma alegoria, batizando algo bom e desejado e ao mesmo tempo maldito, porque me perseguiu e me fez abrir mão da tranquilidade de vários empregos seguros por saber que ele me acompanhava, me esperava. Como um bilhete de loteria premiado em mãos, é só ir lá receber... Mas alternava desejo e desprezo. Lugarzinho difícil, maldito, achado porque minha copiloto era neófita na região e eu, displicente comandante antigo, deixava o pesado helicóptero vagar em sua rota no Paraíso Verde, ora à direita, ora à esquerda, por ter em minha mente a posição do rio Juruá e a qualquer momento podia assumir o controle e aproar para ele, seguindo até nosso destino. Fui falar em ouro, muito ouro, então, para evitar complicações e correrias, deixo claro que isso aqui é um romance escrito por um velho enfadado para passar o tempo restante neste planetazinho ordinário. Se for perguntado, desminto tudo. Têm personagens verdadeiros? Alguns. Locais verdadeiros? Alguns. Relatos verdadeiros? Alguns. Tudo misturado para não ter muito trabalho mental ao escrever. Se querem verificar, perguntem aos personagens verdadeiros, eles se lembrarão de algumas passagens. Chequem os mapas, lá estarão algumas curvas de rio importantes... Juntem tudo e terão a verdade. Querem ir lá? Não recomendo, mas tudo é aventura e surpresas acontecem. Tranquilo ao escrever após tanto tempo, pois quem conhece a Amazônia sabe que um cadáver não fica apodrecendo no mesmo lugar, dissolve-se e vira adubo, mas só o pouquinho que porventura sobrar do banquete animal. Escritor amador, já falei demais na primeira página, em vez de fazer suspense e deixar as coisas acontecerem em seu devido tempo... Colocando as ideias em ordem, caminho lentamente pela sala de meu velho casarão nesta manhã de sábado, todas as janelas frontais – e são muitas – estão fechadas, apenas as laterais eu tenho aberto ultimamente. Já não existo, nada mais a dizer. Mas sim escrever, a última travessura, lançar a confusão e fugir para o túmulo... Contemplo meus móveis antigos, minhas fotos de África, a gloriosa verde e branca bandeira da Rhodesia dependurada na parede. Olho para o canto da biblioteca e abro um largo e raro sorriso. Sobre uma base de madeira, mogno creio eu, está minha peça de trator, com a qual todas minhas ex esposas implicavam, “que disparate”, uma peça feia, pesada, “você nunca teve nada com tratores”, “não tem nada a ver com a decoração”... Até mesmo os ladrões quando roubaram a casa no sítio em uma de minhas várias ausências, desprezaram-na. Levaram minhas peles de onça, antiguidades, mas a roda motriz 320 da Caterpillar, com seus incômodos 36 quilos, pintada com o clássico amarelão, lá ficou, sem valor, sem importância. Escrito com pincel e tinta preta, grosseiramente, lá está o S/N, o “serial number” se destacando contra o amarelo:8E9805. Assim, desprezada, ela viajou de Eirunepé, Amazonas, dentro de um rústico engradado, com alguns pedaços de papelão nas bordas, reforçado com aquelas tirinhas metálicas para não romper, numa balsa até Manaus. Sem seguro, declarada como peça recondicionada, sem valor comercial... Depois Belém, ainda de balsa, depois São Paulo, na carroceria de um caminhão de transportadora. A recebi passado uns dois meses, caixote todo se arrebentando pelos maus tratos. Trinta e seis quilos de ouro inca que não tive coragem ou necessidade de usar durante 15 anos... Ínfima parcela do que me esperava lá na selva, com o mapa guardado aqui na cabeça, apenas alguns lingotes que pude carregar, deixados no terreno pelos saqueadores... A ideia fora muito boa para se livrar da fiscalização rígida, controlando a saída do ouro de garimpos clandestinos, rígida porque buscava angariar subornos...A peça velha do trator de esteira, a primeira que achei no ferro velho, areia fina molhada e prensada para o molde e um maçarico bastaram. Depois, o acabamento com uma lima, um pouco de tinta amarela e preta e foi só despachar, do modo mais barato possível disponível na praça. Nunca a considerei dinheiro, porque não a enxergo na cor amarela, apresenta-se vermelha, de sangue. Não valeu a pena... O que chamo de ouro, quimera, não mais me fará diferença e os cadáveres que aparecerão na história, tenho certeza que não estarão no terreno onde foram deixados, quinze longos e úmidos anos atrás. Isto é um romance, caras autoridades...  


********


Longe da exagerada ficção, as vidas de Arthur, Maria, J.C. e o octogenário viúvo estão, diria eu, aquém do cruel e indiferente real. É preciso encarar a vida sem o escudo confortável de um suposto Deus e o estelionato das promessas de paraísos pós morte. A duvidosa benesse de uma consciência fugaz, transitória, presente na inteligência rudimentar desenvolvida nos humanoides só tem produzido resultados desastrosos em relação aos outros animais que se desenvolveram neste mesmo planetinha vulgar; estimulamos e desenvolvemos a agressividade além corpo com armas de destruição, usamos a mente para manter um perpétuo cio superlotando a superfície terrestre além do que ela pode suportar em alimentos e usamos a filosofia equivocadamente partindo de bases frágeis e insanas que nos colocam como seres superiores. Não passamos de um corpo abobalhado e frágil  arrastado aos trambolhões por um cérebro instável e desordenado, um computador primário infestado de vírus e sobrecarregado por arquivos inúteis e corrompidos. 

SOBREMESA: Para não ficar o gosto amargo, vamos adoçar com dois contos infantis, também grátis: O Rei Gordo Barrigudo e As feias bruxas, as belas princesas, e seus castelos sempre distantes... Boa leitura!
******

PS. Algumas obras acima se encontram à venda nas livrarias, em edição impressa e versões em inglês, espanhol, italiano e alemão.

domingo, 22 de setembro de 2019

Do surgimento aleatório do ser humano ao progresso rumo a sua extinção

P.A.Marangoni

E “Deus” criou o homem, o ornitorrinco e o pangolim... Imaginação fértil a do barbudo, só não suplanta a do próprio homem que O criou para não se sentir uma obra do acaso.

Cheguei aos 70 anos, prestes a ser desmontado e olho para trás. Realizei coisas interessantes nas passadas décadas, mas que foram engolidas pelo tempo, esse vilão que não conseguimos entender e dominar, e tudo o que fiz, passei, realizei, tem a mesma textura palpável de um filme de ficção ou uma historinha infantil, ou seja, nada. Qual o valor da vida? Qual o futuro do animal humano que desenvolveu a capacidade de acumular conhecimentos e ao juntá-los consegue tomar atitudes e criar eventos aparentemente inéditos, mas que não passam de uma mistura de experiências já vividas, próprias ou alheias? Mas o animal homem chama isso de inteligência e se acredita superior aos demais seres viventes do planeta, todos surgidos aleatoriamente – inclusive o próprio planeta.

E o Homem idealizou Deus, os anjos, a alma... Imaginação fértil a dos bípedes pelados, juntando fatos que não entendem mas os veem como um aval à sua superioridade e da garantida continuação da vida após a morte, um evento que nada mais é que a dissolução de um ser vivente que retorna ao estado original de partículas que se aglutinarão às demais ou vagarão como gases por aí, sem qualquer consciência.

A vida consciente ou qualquer forma de vida e o próprio Universo, não tem sentido ou valor, pois não ser é superior a ser, o Nada é superior ao Todo. O tempo engole a tudo e a todos e não os defeca, nada resta num tempo infinito.

O futuro distante não é o paraíso sonhado. Com plena “felicidade” advinda do conhecimento não há necessidade de vínculos afetivos, o indivíduo se basta; com pleno conhecimento para manter indefinidamente os arquivos da mente de forma artificial e aperfeiçoada, não há necessidade de um corpo perecível para armazená-lo e elimina-se a procriação, ato primitivo de seres de curta duração para a sobrevivência de sua Espécie. Assim será o futuro, seres de material artificial e renovável, autossuficientes, rumando para a construção de uma única máquina que englobe todo o conhecimento, o que tornará obsoleta a função do “poder”, origem dos nossos  males. Verdadeiramente será essa máquina o “Deus” real. Os humanos de carne e ossos são apenas formas de vidas intermediárias, que deram início ao processo mas destinadas à extinção por sua própria vontade, através da evolução. E depois virá o Nada, pois uma máquina perfeita saberá que o Nada é infinitamente superior à existência e se auto consumirá, levando consigo todo o inútil Universo.

domingo, 10 de março de 2019

Maria da Silva: Lediglich ein Bild des brasilianischen Alltags





Man kann "Maria da Silva" nicht als Science-Fiction  bezeichnen, weil es ein Porträt des Alltags ist, ohne zu beschönigen. Ein kleines Buch über die kurze Lebensdauer einer Müllsammlerin. Hier gibt es keine überflüssigen Beschreibungen, so dass die Phantasie des Lesers die Umgebung zusammenfügen muss, indem er das Drama im Rahmen der Szene liest, die er kennt, die sich in seiner Nähe abspielt, die er im Alltag visualisiert und deren Herz er nicht kennt. "Marias da Silva" sterben täglich an Hunger und unbehandelten Krankheiten in einer kurzen und tragischen Reise des Lebens, und bergen darin eine ganze Geschichte, die von anderen Mitbürgern ignoriert wird. Es ist an der Zeit, sie als menschliche Wesen zu sehen, und dieses kleine Buch kann dabei helfen. Ich habe das Gefühl, dass das Werk nicht mir gehört, ich bin nur der Moderator der Botschaft von Maria da Silva. Ich glaube, wenn sich einige Leser ändern, nachdem sie dies kennengelernt haben, und sei es nur, dass sich der Ausdruck ihres Blickes auf die Müllsammler ändert - die das Verabscheute sammeln und nicht betteln - wird die mir zufällig anvertraute Mission erfüllt sein ...


MARIA DA SILVA

quarta-feira, 4 de julho de 2018

OS VARÕES ILLUSTRES DO BRAZIL DURANTE OS TEMPOS COLONIÁES



“Os varões illustres do Brazil durante os tempos coloniáes” de J. M. Pereira da Silva é uma obra que através do tempo tornou-se preciosa para pesquisadores e leitores curiosos como um interessante retrato de época, quando, sem os recursos de mídia de hoje, a literatura em prosa e verso tinha um peso igual aos discursos políticos, até mesmo mais difundidos por usar um veículo lúdico. Poetas ou políticos, cientistas ou religiosos, foram poucos os que conseguiram romper as névoas do anonimato em um período de parca comunicação e permanecerem como os varões illustres dos tempos coloniais até nossos dias. Procurando a obra de J. M. Pereira da Silva, encontrei várias cópias impressas e arquivos digitais, muitas até gratuitas, mas todas em fac-símile, o que dificulta a leitura, estudo ou consulta pelo tipo da impressão original, centenária! Para oferecer uma opção mais prática, formatei o texto em Arial 12, atualizei o sumário, ilustrei com os personagens e suas obras e editei os dois tomos num só arquivo, que disponibilizo abaixo para os interessados. Mantive a grafia original, pois assim permanecendo, sem que a compreensão seja afetada, torna-se um fator a mais para nos envolver nesse saboroso mergulho na História.






quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Eutanásia,o suicídio e o romance "Johnny vai à guerra" de Dalton Trumbo

Aos que não admitem as duas alternativas citadas no título acima contra o sofrimento físico ou mental,sugiro que assistam ao sufocante e inesquecível filme originado deste aterrorizante livro,aterrorizante porque real,porque nos dá uma cutucada nas costas -hei,você!!- enquanto tentamos passar apressadamente por casos semelhantes fingindo nada ver e nos atira a podre hipocrisia social na cara. O romance baseado em fato real sobre um jovem soldado da primeira guerra mundial que mutilado -sem braços,pernas, cego, mudo- resume-se a um tronco jogado em uma cama mantendo um cérebro com consciência plena,na mais completa angústia de não poder se comunicar e -sem meios de se matar- ter a tortura de viver prolongada inutilmente em nome de princípios éticos e religiosos dos que o “cuidam”. Não é relevante que seja um mutilado de guerra; poderia ser uma vítima de acidente automobilístico, uma doença incurável ou mesmo sobre um ser saudável que por filosofia própria não deseje mais viver, mas seu sofrimento é prolongado inutilmente pelos demais membros da sociedade humana atrelados à regras, crendices, medos, covardias e de indevida autoridade sobre a vida alheia.

O livro, de aproximadamente 230 páginas publicado em 1939 é encontrado em português; quanto ao filme, que recomendo pela sua dramaticidade plenamente explorada pelo próprio escritor que dirige sua obra no cinema, pode ser encontrado em DVD. Dalton Trumbo, autor do livro e diretor do filme, apesar de sua atribulada vida política, é um profissional ímpar, roteirista de obras como Spartacus, Exodus, Papillon, Roman Holiday (Oscar de melhor história, 1953), The Brave One (também Oscar de melhor história em 1956). As lembranças,sonhos ou alucinações do jovem mutilado nos são apresentadas em cor, enquanto que no tempo presente,na cama de hospital, as imagens são em branco e preto. A angústia presente durante o transcorrer do drama é arrematada por um final que nos deixa sentados inertes, com uma sensação acovardada de “não devia ter assistido”... Não recomendo a quem prefere passar ao largo de verdades que nos apontam o dedo acusador. Recomendo firmemente aos contrários à eutanásia e os que criticam os suicidas.


Considero o suicídio uma decisão soberana de cada ser humano, um direito inalienável, indiscutível. Quanto à eutanásia, os ventos da racionalidade já começam a soprar favoravelmente com vários textos sendo analisados no Senado, além de uma legislação flexível que permite ao juiz julgar caso a caso e inclusive deixar de aplicar a pena. Em casos irreversíveis de doenças ou traumas,desde que atestado por dois médicos é permitido que aparelhos que mantenham artificialmente a vida sejam desligados.(ortotanásia). Aos que após assistirem o filme e começarem a ter pesadelos -plenamente justificáveis- lembro que é possível e legal o Testamento Vital, que segundo o Conselho Federal de Medicina, pode ser feito por qualquer pessoa maior de 18 anos, mentalmente saudável e inclusive -por vias de dúvida- nomear um representante legal para garantir que a vida do interessado não seja prolongada inutilmente e nem mesmo os parentes próximos poderão contestar.

Clique aqui e tire suas dúvidas


A vida não tem preço? Isso é um problema de cada um,único dono da própria; cabe somente ao proprietário estipular seu preço e sobretudo seu prazo de validade...




******


“A morte, eleita livremente, a morte no tempo certo, com claridade e alegria, empreendida em meio a crianças e testemunhas, de modo que uma real despedida ainda é possível, onde este que se despede ainda está aí, assim como uma apreciação real do que foi alcançado e querido, uma soma da vida – tudo em contraposição à comédia deplorável e horripilante que o cristianismo levou a cabo com a hora da morte (…) a morte sob condições desprezíveis não é uma morte livre, ela não é uma morte no tempo certo, ela é a morte de um covarde. Dever-se-ia por amor à vida – desejar a morte de outra forma, a morte livre, consciente, sem acaso, sem a tomada de assalto…" (Nietzsche)


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Glimpse of Brazilian Reality


“Maria da Silva” is not entirely a work of fiction but more like an unembellished glimpse of Brazilian reality. A thin book about the short life of a rubbish scavenger. The lack of superfluous descriptions here is intentional so the mind of the reader can recreate a setting that is more familiar to him or her. A place they might see on a day-to-day basis but whose essence they do not understand. "Marias da Silva" die every day of starvation and untreated diseases in a brief and tragic passage through life, taking with them a story that is overlooked by most. It is time for us to look at these people as human beings and this thin little book may help with that. I feel that this work is not mine. I am only the deliverer of Maria da Silva's message. I believe that if a few readers change after reading this, even if only by the expression on their faces when they see a rubbish scavenger - who lives from things unwanted and not from begging - the mission I have been given by chance will have been accomplished.


Amazon


domingo, 29 de janeiro de 2017

A inútil busca da felicidade

pagãos inocentes da decadência” (f.pessoa)


As crianças –só as pequeninas-  são as únicas verdadeiramente felizes. Vivem o momento. São felizes porque não tem conhecimento. Ainda não se descobriram, nem aos demais pobres seres semelhantes. Depois são paulatinamente esmagadas como todos os adultos pela noção, ainda que recusada e escondida num recanto do cérebro, de uma existência cruel rumo ao nada, engolfados por uma coleção de complementos inventados para obnubilar a consciência e o acúmulo de saber inconcluso  que espicaçam a cada ato, a cada momento, e deixam o humano no limiar do desespero ou da loucura, que nada mais é que outra forma de viver, tão válida como a dos chamados sãos. O final será o mesmo para ambos. O que é a música, o amor, as bebidas, as drogas, as religiões, os deuses, senão fórmulas exatamente iguais de enevoar, atenuar uma existência absurda, inútil?