A opção pela morte é um
direito que a hipócrita sociedade e o onipresente Estado condenam, mas para
exasperação de ambos não pode ser punida. O homem pode escolher o momento de
bater a porta e sair e embora o assunto seja quase um tabu essa possibilidade,
esse poder concedido a todos que tenham suficiente inteligência, clareza de
pensamento sem a contaminação de doutrinas, regras, conceitos alheios, tem um
imenso poder de alívio, de moderação, de força para seguir adiante debaixo das
intempéries mais cruéis impostas pelo viver consciente e paradoxalmente não
escolher -nos piores momentos- a morte. Esta opção fica -aos pensantes- para os
momentos de calmaria após as tempestades, muitas tempestades que aos poucos
foram encharcando até aos ossos do custo-benefício racional, determinantes na
resposta ao mestre de cerimônias que rege o tempo decorrido e o restante:
E então, você para ou
continua?!
O encharcado humano que
escolhe continuar é saudado pelos comodamente secos que o cercam com movimentos
afirmativos de cabeça, aplausos, tapinhas nas costas. Depois todos se afastam
com seus largos guarda-chuvas e o pobre esquecido continua ali, com a água do abandono,
da inutilidade a escorrer pelos cabelos… O que grita claro e forte, pois nesta
opção não há titubeio – eu paro!- provoca a fúria da plateia, recebe uma
avalanche de vaias, apupos que nada mais são que mãos estendidas para segurar a
presa que lhes escorrega entre os dedos, escapa com a mordida dolorosa da
contestação:
-idiotas, eu apenas estou
indo à frente, logo me seguirão…
O que são 10, 20, 80 anos
num tempo infinito? Nossa diferença para os efemerópteros, que não duram mais
que 24 horas é que somos dotados com um cérebro usado apenas para negar essa
evidência mais que constatada. E o tempo de vida de ambos -humanos e insetos-
proporcionalmente ao universo, pode ser considerado para um observador distante
e isento como absolutamente igual.
Portanto, use sua vida com audácia, brilho e
independência total dos homens e dos deuses com a consciência, com a
tranquilidade de saber que não existem contratos assinados, que sua permanência
no recinto deste planetinha só depende de sua vontade. Se o espetáculo não
agradar, sair é um direto seu, ato que só é execrado pelos covardes e irracionais
porque, sempre correndo ao lado dos ridículos pretensos vencedores de alguma
coisa em vida, adornados com louros na cabeça, a realidade lhes sussurra
continuadamente aos ouvidos:
-você é apenas… um cadáver
adiado que procria!
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