Paranoia.
S. f. Psiq. Psicopatia, de que há várias formas clínicas, caracterizada
pelo aparecimento de ambições suspeitas, que se acentuam, evoluindo
para delírios persecutório e de grandeza estruturados sobre base lógica.
(Aurélio)
Tudo
o que sabemos doutrem é através de informações do próprio e deduções a
partir de seu comportamento. Não conhecemos verdadeiramente ninguém.
Você sabe o que se passa dentro da casa de seu vizinho? Você sabe o que
se passa dentro da mente de seu cônjuge?
Abra
essa obra. Não se trata de um livro e sim da porta para o interior de
uma mente alheia. Entre, raciocine em conjunto e acompanhe os passos
lógicos e convincentes da vítima. Olhe para fora e veja um mundo
perverso e ameaçador…
O professor JC :
“…Não
dá mais, urge deixar anotado, de alguma forma alguém tomará
conhecimento do que estão fazendo comigo caso passem à violência e eu
apareça morto. Falo dos psicopatas que me cercam e vigiam.
Estou
muito à frente dos que me cercam, por isso querem-me ao seu lado! Algum
tempo atrás quando ainda a geladeira estava ligada, salvara dois grãos
de arroz doce e escondi o fato, que agora posso esclarecer para os que
porventura lerem essa peça de acusação e até mesmo para mim. Obviamente
os grãos de arroz não falaram comigo, não tinham bracinhos dependurados!
Não procurem traços de loucura em mim! Explicarei para que esse
relatório não seja desconsiderado tachando-me de lunático e desviando as
atenções das investigações que certamente acontecerão. Retirava um
pouco de sobremesa quando ao fechar a geladeira vislumbrei os dois grãos
de arroz dependurados na borda da travessa, corpos projetados no espaço
com apenas uma mínima parte em contato com o recipiente. Eu -agora sei-
como parte e todo do Universo, portanto parte, todo e colega dos dois
grãos de arroz, senti o apelo que eles/eu/universo lançaram acerca da
energia que ali se gastava sem um fim útil. Abri novamente a porta,
recolhi os dois grãos e os reuni aos outros que ao serem ingeridos, me
forneceriam energia mais útil do que a desperdiçada ao permanecerem
agarrados à borda da travessa! Raciocínio simplesmente lógico, tarefa
impossível para um suposto demente.
Agora
entendo que não vim por acaso, como me parecia, uma simples
transferência burocrática. Fui enviado para neutralizá-los e tentar
clarear seus caminhos. O Mal reside em Santo Antonio do Desamparo! O
mundo tem que tomar conhecimento e atacá-lo pois está concentrado. O
Mal aumentaria seu poder comigo ao seu lado? Mas como? O quê em verdade é
minha casca humana que tanto querem e tentam preservá-la?
Agora
sei e entendo minhas angústias humanizadas de ser um solitário que
nunca teve uma namorada, nunca casou e nunca soube o que é ser pai.
Minha missão era outra. Por isso nunca adoeci. Por isso me sentia
diferente dos demais. E todos os que estão sob o domínio do Mal sentiam
meu poder, por isso não se aproximavam, não me aceitavam e eu amargava a
discriminação, solitário, deixado de lado até mesmo na escola, depois
de tantos anos de serviço, para amanhecer no dia previsto para minha
aposentadoria e desligarem-me como um aparelho obsoleto
Doutor Ernesto F. Wuller, psiquiatra Chefe:
“…J.C. 54 anos.
Uma vida discreta, pacata, profissionalmente produtiva. Uma simples
timidez que como uma bola de neve aumenta quando a burocracia fria o
transfere para uma cidade desconhecida. E enquanto a vida rola encosta
abaixo vai agregando mais e mais problemas de relacionamento social sem
que os demais se importem com isso. Foi transferido porque não tinha
família, agora não participa porque não tem ligações, raízes.
Escolhem-se os amigos e amores como uma fruta no mercado, as que mais
atraem esteticamente sem se importar com o conteúdo, as marcas mais
conhecidas; o que não é atrativo ou conhecido fica marginalizado
contemplando namorados de mãos dadas, rodas de alegres amigos, famílias
sendo constituídas. O homem torna-se incompleto, sua casa não se
constitui num lar, é apenas um abrigo. Reflui, interna-se, só olha para
dentro de si, o entorno passa a ser indefinido, enevoado, disperso,
impalpável. Torna-se respeitado por sua competência mas se transforma
para os demais em uma figura jurídica, impessoal. Não há amigos ou
amores e o trabalho substitui o lar, a sociedade é o simulacro de
família.
E de
repente chega a aposentadoria. Desliga-se a chave da figura jurídica.
Desaparece a família social, fecha-se a porta do lar-trabalho. E chega o
despertar na manhã em que não há para onde ir, não é requerido,
esperado, solicitado, seu nome não consta na lista de cidadãos
produtivos. Não tem porque levantar-se da cama. Encontra a vida fechada
para balanço. E é ele, sozinho, que terá que encarar esta contabilidade
cruel. Não há o ombro de uma esposa, os risos dos netos que carimbam a
vida plenamente vivida. Não há mais sonhos a serem sonhados. Sente que
as paredes do fracasso começam a se aproximar para esmagá-lo e tem dois
caminhos diante do nada quando olha para o passado e do nada quando
encara o futuro: admitir a derrota, a incapacidade, a fealdade, a
incapacidade de conquistar, enfrentando a tristeza, a depressão que já
mostra sua cara e esperar a morte estoicamente ou optar pela vida,
rebelar-se, rejeitar o fracasso, encontrar os vilões que não permitiram
que recebesse seu quinhão de felicidade?
E
ele encontra facilmente o vilão, porque ele pode ser real, ele pode
existir para todos nós que o adulamos, servimos, tentamos conquistar,
enchemos-lhe de sorrisos e acenos mas é um monstro hipócrita, amoral,
cruel, castrador, dissoluto, ditatorial: a Sociedade. Para assim vê-la,
basta uma simples mudança de chave no intrincado cérebro humano…”
Sem dúvidas, este livro é uma coisa de louco… Leia antes que a CIA o delete!
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