Joaninha estreando na literatura infantil mas diria eu, na filosofia infantil que constrange os empolados adultos… Texto para os pais, gravuras para os filhos. Apenas estas devem ser usadas para fins didáticos, o texto é em linguajar infantil, portanto sem seguir regras.
O prefácio:
Depois de tentar revisar e colocar as centenas de vírgulas que faltam, consertar alguns verbos e “desinventar” algumas palavras, além da total e determinada recusa da Joaninha convenci-me que ela estava certa e eu errado como todos os adultos que se metem a escrever historinhas para crianças com linguagem de gente grande. Joaninha é isso aí que encontraremos nas páginas seguintes, uma metralhadora disparando palavras em alta cadência com as vírgulas correndo atrás das frases sem alcançá-las, com as pausas só acontecendo quando o fôlego acaba. Uma menininha de olhos grandes olhando para vocês de baixo para cima e lançando um turbilhão de novidades e questionamentos que mais que respostas nos conduzem à reflexão. O que ela tem para dizer é sempre muito importante e inédito, como o tropeço na pedra que levantou a unha de seu dedão. Eu estava lá e pude presenciar o infausto acontecimento. O resto também é verdade e o Chapuço continua a morder gambás e ouriços como bem é descrito neste livro. Uma obra para ler e reler, pois como me disse sabiamente a Joaninha, o bom do livro é que quando ele acaba continua cheio e a gente pode ler de novo…
Uma boa leitura –e releitura- a todos.
O vô da Joaninha
E depois a Joaninha assume o comando da obra:
“Meu avô disse que o prefácio é o porteiro do livro e que é sempre bom ter um para ajudar as pessoas entrarem nas páginas sem se perder assim tipo bom dia, o senhor vai reto e depois vira à direita. Então eu pedi para o meu avô escrever o prefácio, mas foi só isso que ele escreveu e o resto fui eu sozinha.”
O Alfabeto: Joaninha explica.
Por Joana, que sou eu mesma.
Explicação do que vocês vão ler
Por Joana, que sou eu mesma.
Explicação do que vocês vão ler
“Eu gosto de explicar, já que ninguém entende ninguém, parece. Todo mundo riu porque no livro do meu vô que eu expliquei, eu assinei Joana, que sou eu. Mas sou eu mesma. Como eu ia escrever meu nome se não fosse eu? Agora fiz meu livro e assinei Joana, que sou eu mesma. Mas todo mundo riu de novo! Acho que só para me agradar, dizem: que gracinha bem! E eu digo: Joana. E eles continuam a me chamar de bem. Esse livro era para nós, já grandes mas menores que os mais grandes, os mais velhos. Minha mãe fala que eu falo demais. Meu pai também. Meu avô encolhe os ombros e levanta as sobrancelhas quando eu pergunto para ele se eu falo demais e não fala nada. Então resolvi escrever que assim não arde os ouvidos de minha mãe. Ela fala que arde, não sei como. Assim que começaram a me ensinar escrever, vi que os mais velhos não entendem muito o alfabeto, que são as letras todas juntas mas separadas e que não querem dizer nada mas servem para dizer tudo! É difícil mesmo né? Aí pensei se eu explicar letra por letra fica mais fácil. E depois quando a gente vai usar as letras para fazer palavras, ainda tem os acentos que são em cima mas falamos igual ao assento que é embaixo. Como uma criança menor que eu vai entender? Nunca. Eu gosto de escrever explicar porque explicar é com x, que acho difícil. E chique. Meu livro que é esse livro que você está lendo vai se chamar O Alfabeto: Joaninha explica. Vai chamar porque ainda não foi publicado, estou escrevendo agora, mas se você está lendo é porque já chama. Eu coloquei Joaninha porque assim as crianças vão saber que sou eu e não a Dona Joana vizinha da minha avó que é grande aí as crianças podem não querer ler porque os grandes não sabem explicar direito. Se eles soubessem eu não precisaria escrever esse livro. Porque eu pensei assim, se os muito grandes não ensinam direito, eu escrevo um livro ensinando as crianças a aprenderem a ler sozinhas sem confusão e aí eu mostrei para minha mãe e ela falou: ai minha filha que gracinha, vai ser o maior sucesso! Eu fiquei contente e mostrei para meu pai e ele disse: muito bem, parabéns! E eu continuei contente e mostrei também para o meu avô que estava assistindo futebol na televisão e ele disse: taí uma boa ideia. Aí então eu mostrei para minha vó que é secona. Secona é quando a pessoa é seca, não fica melando a gente como com açúcar, como nossos pais tipo ai que gracinha, bilú bilú, que amor e tudo está bom. Mas a minha mãe fala que não é para chamar minha vó de secona, mas ela toda hora diz prô meu pai: minha mãe é secona. Minha mãe que ela fala é minha avó. Aí eu mostrei para minha vó. E ela disse secona: e como as crianças vão aprender a ler sozinhas no seu livro se elas não sabem ler? E eu não sabia o que falar, é mesmo! Então esse livro não é mais para as crianças grandes, é para os mais velhos que já sabem ler mas não sabem ensinar. Meu livro é para ensinar a ensinar. E minha vó disse assim meio secona: melhorou!
E já vou logo começando, para mostrar que não falo demais e os desenhos foram todos feitos por mim, meu avô não pôs a mão.”
...e com ilustrações de próprio punho que matam de inveja qualquer profissional do ramo, o alfabeto vai sendo explicado, letra por letra. Escolhi a letra E, que bem ilustra as confusões em que a Joaninha se mete, mas sempre bem elucidadas por ela, que é claro, está com a razão ao seu lado…
Letra E. “Viram como ela está sozinha? Sem ninguém junto. Não é tímida e é tão esperta que quase todas as letras que não falam sozinhas, as consoantes, pedem para ela sair junto com elas. Vocês viram: bê, cê, dê. E chique, para sair junto com as outras põe o chapeuzinho na cabeça! E se ela não é consoante só pode chamar vogal, como expliquei lá em cima na letra B. Quer dizer, não expliquei muito muito, só comentei. Só comentar é para terminar uma conversa, é quando a mãe fica brava com a vó e a vó diz: só comentei. Gosto muito da letra E porque ela é uma boa letra, igual o A, além de trabalhar ainda ajuda as outras. Foi por causa dela que a professora quis ter mais uma conversinha com meu pai e minha mãe. Ela disse que todas as crianças precisavam participar e eu ocupava muito tempo da aula. Aquilo que minha mãe diz de que eu deixo a orelha dela ardendo. Mas eu estava certa. Minha professora achou que eu não estava certa! Disse que eu era muito insistente. Meu pai disse para a professora que eu defendia minhas opiniões e minha mãe olhou tão feio para meu pai que ele não disse mais nada. Mas uma hora que as duas conversavam, as duas são minha mãe e a professora, ele riu para mim. Mas daquele jeito que não faz barulho, só com o cantinho da boca. Foi assim, a professora pediu para que cada aluna dissesse uma palavra começando por E. Não que ela gostasse mais do E, é porque ela já tinha pedido antes com a vogal A que sempre aparece como a mais importante. E eu disse: efe. E ela disse: F é uma letra, dá confusão, não serve. E eu disse: é-f-e, bem repartidinho. Ela disse assim já meio brava: diga outra, por favor, Dona Joana… Quando ela fala assim, sem gritar no final, onde eu pus os três pontinhos que querem dizer que vai diminuindo, diminuindo, é como se gritasse mais, fica todo mundo quieto e duro nas cadeiras. E eu disse: efe é com é… assim também diminuindo com os três pontinhos. A professora suspirou, assim soltando o ar devagarinho e sem olhar para mim andou para a janela, com as mãos para trás. Vá ao quadro e escreva é-f-e… E eu fui e escrevi: F. E toda a classe que estava dura e quieta começou a rir muito. Aí a professora disse quase sem abrir a boca, assim espremendo as palavras: vai sentar meu bem. E começou a ensinar a tabuada. Quando acabaram as aulas a Dona Nica pegou na minha mão, a Dona Nica trabalha na escola, e ficou no portão. E aí não chegou só minha mãe para me pegar, chegou meu pai também mas não me levaram embora, entramos todos de volta na escola, acho que telefonaram para eles inventando histórias e aí fomos para uma sala para minha mãe e a professora conversarem, meu pai balançar muito a cabeça e eu quieta, porque assim que fui falar minha mãe disse: calada! Minha professora pôs o dedo na boca olhando para mim e meu pai falou: fica quietinha meu bem. Ai tive que ficar né. Três a um disse meu vô. Mas eu estava certa. A professora disse para eu falar, fa-lar, uma palavra com E e eu disse efe. Depois ela disse para escrever, es-cre-ver F na lousa e eu escrevi F. E agora está aqui no livro para todo mundo ler, até a diretora. Vergonha pra ela. Eu acho.”
E já vou logo começando, para mostrar que não falo demais e os desenhos foram todos feitos por mim, meu avô não pôs a mão.”
...e com ilustrações de próprio punho que matam de inveja qualquer profissional do ramo, o alfabeto vai sendo explicado, letra por letra. Escolhi a letra E, que bem ilustra as confusões em que a Joaninha se mete, mas sempre bem elucidadas por ela, que é claro, está com a razão ao seu lado…
Letra E. “Viram como ela está sozinha? Sem ninguém junto. Não é tímida e é tão esperta que quase todas as letras que não falam sozinhas, as consoantes, pedem para ela sair junto com elas. Vocês viram: bê, cê, dê. E chique, para sair junto com as outras põe o chapeuzinho na cabeça! E se ela não é consoante só pode chamar vogal, como expliquei lá em cima na letra B. Quer dizer, não expliquei muito muito, só comentei. Só comentar é para terminar uma conversa, é quando a mãe fica brava com a vó e a vó diz: só comentei. Gosto muito da letra E porque ela é uma boa letra, igual o A, além de trabalhar ainda ajuda as outras. Foi por causa dela que a professora quis ter mais uma conversinha com meu pai e minha mãe. Ela disse que todas as crianças precisavam participar e eu ocupava muito tempo da aula. Aquilo que minha mãe diz de que eu deixo a orelha dela ardendo. Mas eu estava certa. Minha professora achou que eu não estava certa! Disse que eu era muito insistente. Meu pai disse para a professora que eu defendia minhas opiniões e minha mãe olhou tão feio para meu pai que ele não disse mais nada. Mas uma hora que as duas conversavam, as duas são minha mãe e a professora, ele riu para mim. Mas daquele jeito que não faz barulho, só com o cantinho da boca. Foi assim, a professora pediu para que cada aluna dissesse uma palavra começando por E. Não que ela gostasse mais do E, é porque ela já tinha pedido antes com a vogal A que sempre aparece como a mais importante. E eu disse: efe. E ela disse: F é uma letra, dá confusão, não serve. E eu disse: é-f-e, bem repartidinho. Ela disse assim já meio brava: diga outra, por favor, Dona Joana… Quando ela fala assim, sem gritar no final, onde eu pus os três pontinhos que querem dizer que vai diminuindo, diminuindo, é como se gritasse mais, fica todo mundo quieto e duro nas cadeiras. E eu disse: efe é com é… assim também diminuindo com os três pontinhos. A professora suspirou, assim soltando o ar devagarinho e sem olhar para mim andou para a janela, com as mãos para trás. Vá ao quadro e escreva é-f-e… E eu fui e escrevi: F. E toda a classe que estava dura e quieta começou a rir muito. Aí a professora disse quase sem abrir a boca, assim espremendo as palavras: vai sentar meu bem. E começou a ensinar a tabuada. Quando acabaram as aulas a Dona Nica pegou na minha mão, a Dona Nica trabalha na escola, e ficou no portão. E aí não chegou só minha mãe para me pegar, chegou meu pai também mas não me levaram embora, entramos todos de volta na escola, acho que telefonaram para eles inventando histórias e aí fomos para uma sala para minha mãe e a professora conversarem, meu pai balançar muito a cabeça e eu quieta, porque assim que fui falar minha mãe disse: calada! Minha professora pôs o dedo na boca olhando para mim e meu pai falou: fica quietinha meu bem. Ai tive que ficar né. Três a um disse meu vô. Mas eu estava certa. A professora disse para eu falar, fa-lar, uma palavra com E e eu disse efe. Depois ela disse para escrever, es-cre-ver F na lousa e eu escrevi F. E agora está aqui no livro para todo mundo ler, até a diretora. Vergonha pra ela. Eu acho.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário