…O mais patético dos animais, o Homem-peixe-voador, neste salto de um segundo de consciência transitória coleciona tudo o que pode amealhar, penas ao vento, grãos de poeira, alguma folha que porventura esteja a boiar na superfície. Esbarra no peixe que salta ao lado, toma-lhe a frente. E depois se dissolve na água com alguns respingos que rapidamente desaparecem. Se no micro momento antes de tocar a cabeça no oceano do Nada perguntássemos a cor do maravilhoso céu que acabara de percorrer, não saberia a resposta…
…Transitoriedade é a palavra que bem definia Arthur porque assim se sentia: um ser passando de uma forma para outra. Via-se como um peixe voador que havia nascido quando principiava a sair d’água para seu salto e que, momentos depois cairia novamente na inconsciência quando voltasse a tocar na superfície límpida, calma, indiferente de um mar infinito chamado Universo. Sabia que era nada e tudo ao mesmo tempo, pois era de Arthurs, pedras, árvores, água e tudo mais que era formado o Todo, peças intercambiáveis construindo ao acaso. E o acaso dotara Arthur de uma qualidade duvidosa, a de, neste salto milimétrico e efêmero, fazer uso de uma consciência transitória, ver-se, sentir-se, observar. Era um pobre ser humano, a mais inútil das criaturas numa realidade igualmente inútil.
…Era um cérebro instalado em um barco de carne e ossos ao sabor das ondas sociais, pronto a saborear as mais diversas paisagens como pano de fundo ao seu filosofar.
…Vivemos o presente ou estamos no passado, perseguindo nossas ações físicas, mais rápidas que o processamento em nosso cérebro? Podemos ter avançado no espaço e o tempo de computação de nossos atos realizados, ou seja –da vida- ser mais lento e até mesmo processar-se somente após ter se liberado do corpo físico, ou seja –da morte! Podemos estar mortos, lentamente somando os dados em ondas mentais soltas no universo e só agora tendo noção do que fizemos. Uma premonição, por exemplo, seria apenas uma onda que se adiantou dentre as demais…
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