Acabo
de ler a magnífica obra de Muriel Barbery,um livro que tem uma
singularidade: traz outra obra escondida nas entrelinhas, entrelinhas que
superam as 350 páginas da edição brasileira da Companhia das Letras pois
são infinitas,elásticas,que se adaptam à idade,inteligência e vivência
do leitor. O que parece um romance é um guia que induz ao pensar, ao
manejar do que parece óbvio aos nossos olhos, ao que nos é
corriqueiro,através de uma mordacidade acetinada que nos surpreende e
nos obriga a revisitar o prédio repleto de apartamentos de nossa
vida em sociedade e os redecorar sem a máscara que inadvertidamente
-inconscientes ou condescendentes- passamos a usar no dia a dia.
A
leitura é obrigatória aos amantes da filosofia, aos contestadores e aos
que pretendem que fórmulas manejadas ideologicamente possam modificar o
complexo comportamento humano, primatas programados...
...a grande ilusão universal de que a vida tem um sentido que pode ser facilmente decifrado
...detesto essa falsa lucidez da maturidade
...a vida é absurda
...ser brilhantemente bem-sucedido tem tanto valor quanto fracassar. É apenas mais confortável
...somos seres vivos programados para acreditar no que não existe,porque somos seres vivos que não querem sofrer
...uma síntese de pensamento ali onde os discursos oficiais erguem tapumes e proíbem a aventura
...os
homens vivem num mundo em que são as palavras,e não os atos,que têm
poder...são os fracos que dominam...uma injúria terrível à nossa
natureza animal,um gênero de perversão,de contradição profunda
Poderia
me estender em frases que fui sublinhando, mas tenho em mãos um exemplar
com centenas de marcas à caneta por tentar extrair as milhares de
entrelinhas -que são minhas- e vocês,cada um,certamente terão
outras,distintas. Vale a pena ser sacudido por esse presente da
literatura moderna.
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